Crianças e o isolamento social: como agir
Se para nós, adultos, o isolamento social tem sido repleto de aprendizados e desafios diários, para as crianças esta fase tem sido de ainda mais descobertas e também incompreensão. Afinal, como fazer com que o pequeno entenda que o mundo mudou e que de repente todas as pessoas com quem ele tinha contato e todos os lugares que frequentava não poderão mais fazer parte da sua rotina? O diálogo se faz ainda mais necessário e o estímulo físico e mental se tornam regentes do convívio saudável.
Não tem jeito, o confinamento vai impactar de alguma maneira o comportamento infantil. Xianxim, uma província chinesa, realizou um levantamento com 320 crianças e adolescentes e revelou os efeitos psicológicos mais imediatos da pandemia: dependência excessiva dos pais (36%), desatenção (32%), preocupação (29%), problemas de sono (21%), falta de apetite (18%), pesadelos (14%), desconforto e agitação (13%).
Todos estes sintomas variam de acordo com a idade, sexo, contexto familiar e social. A maneira como os responsáveis pela criança lidam com a situação influencia diretamente no comportamento da mesma. Guilherme Polanczyk, professor de psiquiatria da infância e adolescência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), diz que na primeiríssima infância, os primeiros mil dias de vida do bebê, ele percebe o estresse durante a interação com a mãe ou com o cuidador. Já em crianças entre 3 e 6 anos, os danos são sentidos na nova rotina.
Os sintomas da quarentena nas crianças
O corpo fala, principalmente em situações que fogem do comum. Irritabilidade, agitação, alteração no sono, ansiedade, dor de cabeça e dor na barriga são alguns dos sintomas causados pela pandemia. É normal se a criança voltar a ter um comportamento ainda mais infantil, como pedir a chupeta e correr para a cama dos pais à noite. Essas características são pistas que mostram que o pequeno procura por segurança, acolhimento e estabilidade, algo que só os adultos podem oferecer.
A falta da escola mexe ainda mais com as emoções, pois as experiências físicas e as interações sociais são fundamentais para a saúde mental da criança. A falta do convívio presencial e afetivo torna o desafio ainda mais intenso. Enquanto durar o isolamento, é fundamental que a criança mantenha a ligação com os amigos de alguma maneira. Criar uma rotina de atividades didáticas e mesclar com a interação virtual ajudará a driblar os desafios.
O uso das telas deve ser monitorado
No início do ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) atualizou suas recomendações para a saúde mental de crianças e adolescentes no universo digital, reforçando que a exposição às telas de celular, tablet e afins se restringisse a uma hora por dia em crianças de 2 a 5 anos de idade. Nos pequenos de 6 a 10 anos o uso pode ser feito, no máximo, duramente duas horas diárias, sempre com um responsável por perto.
Problemas e soluções da quarentena
Sono: dificuldades para dormir e manter o sono em dia, acordar no meio da noite e correr para a cama dos pais e ter pesadelos são características bem frequentes da quarentena. Rever a rotina da casa e estipular horários e rituais são ações de extrema importância para tornar o ambiente mais tranquilo à noite.
Alimentação: a falta ou o excesso de apetite podem oscilar bastante durante o período da criança em casa. Caso ela não tenha fome, não a obrigue a comer, seja flexível, pois a alimentação não pode ser vista como um castigo ou uma obrigação. Se a fome for insaciável, é importante controlar a ingestão impondo horários e equilibrando os tipos de alimentos.
Emoções: o impacto psicológico depende da reação dos adultos no lar. Saber controlar o estresse e explicar aos filhos as questões sentimentais, com honestidade, é ajuda a tranquilizá-los em situações tensas.
COVID-19 em crianças. É grave?
Segundo o pediatra e infectologista Renato Kfouri, da SBP, quadros graves da doença ocorreram em menos de 1% entre pequenos abaixo de 10 anos, ou seja, são casos bastante raros. Por terem a imunidade mais imatura, as crianças tendem a ter menor presença de portas de entrada para o vírus nos pulmões, o que pode explicar essa maior proteção.